esbravejando suas ameaças em nossa direção. Já se passaram quarenta dias desde que Golias começou seus desafios diários, desdenhando nosso exército e nossa fé. Nenhum homem ousou responder e enfrentá-lo até o momento.Não os culpava. Com toda a sua armadura de bronze e capacete, quase se assemelhando a uma torre ambulante, Golias devia superar qualquer um de nós em mais do que o dobro em tamanho e força. Seu machado de guerra parecia tão grande quanto eu mesmo. Como um homem só poderia rivalizá-lo sem ser esmagado?Contudo, algo em mim rebelava-se contra a perspectiva de simplesmente aguardar ali, encolhidos em medo, enquanto aquela blasfêmia andava pelo vale. Golias não apenas menosprezava nossas vidas - ele insultava nossa fé, desdenhando o poder de nosso Deus protetor.Entretanto, o que poderia eu fazer? Era um simples soldado entre milhares, desprovido da coragem de enfrentar tal monstro. Minha confiança em nosso exército estava diminuindo a cada dia, assim como parecia diminuir a fé de meus companheiros. Até mesmo em nosso rei Saul podia perceber o crescente desencanto, e ele próprio parecia duvidar de poder derrotar o inimigo.Nossos números eram maiores, mas éramos covardes diante daquele único homem. E se nosso rei não conseguia imaginar uma solução, como faríamos? Golias ia ameaçar-nos até consumir nosso espírito guerreiro de vez? Até vermos nossa derrota tornar-se inevitável por pura exaustão?Minhas reflexões foram interrompidas pela algazarra que começou a se espalhar entre os soldados. Olhei à minha frente e vi Davi, o pastor de ovelhas, dirigindo-se com desenvoltura ao acampamento. Meu coração afundou - não precisávamos agora de distrações vindas de uma criança desarmada em meio ao exército.No entanto, havia algo na postura reta de Davi que denunciava uma tranquilidade que há muito tempo não via entre meus companheiros de armas. Seu olhar escuro ficou focado em Golias enquanto ele se aproximava, sem qualquer sinal de temor. Davi falou algo ao rei Saul, que o encarou pasmado.